História

Sant’Anna da Vargem surgiu da fé e da coragem dos primeiros desbravadores de suas matas que, por volta de 1862, abriram caminho, escolheram o melhor local e edificaram uma capela dedicada à Sant’Anna, que consagraram padroeira do lugar. Em volta da capela construíram suas casas e cuidaram de cultivar a terra boa.
Segundo o poeta e historiador Ramiro Laje: “Findava o mês de setembro do ano de 1861. Era uma linda manhã de primavera e, ao redor do sol, o ar das matas misturava-se ao cheiro gostoso de terra molhada pelas chuvas da madrugada. Afeitos ao cultivo da terra, os desbravadores daquele pouso acordavam com os cantos dos pássaros e naquela manhã percorriam o roçado, feito por escravos alforriados e onde seriam plantadas as primeiras lavouras de milho e feijão – das águas. Surgindo de uma grota, entre tabocas e samambaias do mato virgem, em leve declive percorria um riacho, em cuja margem havia um jardim silvestre com singelas flores de várias matizes. Param os desbravadores e contemplam em silêncio a singela e deslumbrante paisagem. Emocionado um deles, associando a devoção pela padroeira à beleza da vargel florida, exclama: Sant’Anna da Vargem: nome aceito com aplauso por todos, que durante a caminhada trocaram idéias, em busca do topônimo definitivo, para o povoado que estavam edificando”.
O povoado cresceu muito em 11 anos e foi elevado a distrito pela Lei Mineira n.º 1999, de 14 de novembro de 1873, subordinado a Três Pontas, já com o nome de Sant’Anna da Vargem, conforme Livro da Lei Mineira em seu em seu Art. 2º: “Fica desmembrado do termo e freguesia de Dores da Boa Esperança incorporá-lo à freguesia do Carmo da Campo Grande e termo de Três Pontas o território compreendido nos seguintes limites: A partir da barra do ribeirão Araras no Rio Sapucahy, e por este abaixo até a barra do ribeirão Água Verde; por este acima até a barra do ribeirão Sapê (que passa junto à casa do major Moraes), por este acima até a sua nascente na serra, e seguindo por esta até a divisa atual.
Art.3º – Fica criado um distrito de paz, que terá por sede a povoação de Sant’Anna da Vargem, da paroquia da cidade de Três Pontas. O Presidente da Província, ouvida na câmara municipal, fica autorizado a marcar as divisas do novo distrito”.
Segundo sessão da Comarca Municipal de Três Pontas, aos 13 de janeiro de 1876 folhas 13-v usque Limites: Três Pontas, onde se faz barra com o córrego que desce da morada de Joaquim Cândido de Figueiredo, por este córrego acima, respeitando as divisas do termo da cidade de Dores da Boa Esperança até o Ribeirão de São Pedro em frente à casa nova de Manoel Alves de Figueiredo, e terreiro da fazenda de Manoel Francisco, por este córrego acima até a estrada de Dores e pelas divisas da fazenda que foi Nicesio Freire em rumo direito atravessando a serra da Toca, até apanhar as divisas da fazenda do finado Barão de Pontal, compreendendo esta fazenda da Mata da Te. Cel. Jaco (?) Fernandes Avelino, seguindo em rumo a apanhar e compreender a Fazenda de José Luiz do Amaral, compreendendo esta Fazenda, seguindo a apanhar e compreender a Fazenda de José Luiz do Amaral, compreendendo a Fazenda de João Evangelista de Mendonça até o alto da Serra, e seguindo por esta em rumo ao Ribeirão de Três Pontas, acima da Ponte denominada Prata e por este Ribeirão abaixo até fechar (sic) no lugar em que teve princípio esta demarcação. A presente demarcação obteve aprovação do presidente da Província, segundo a portaria de 9 de fevereiro de 1876.

Criação da Paróquia de Sant’Anna
Quanto à origem do nome, os Dicionários Históricos nada dizem, mas é certo que há uma estreita ligação com o nome da Santa Padroeira. O distrito foi elevado à Paróquia pela Lei n.º 2402, em 05 de novembro do mesmo ano, tendo como primeiro vigário o padre José Maria Rabello Campos.
Em 05 de novembro de 1877, o Dr. João Capistrano Bandeira de Melo do Conselho de sua Majestade o Imperador, lente público da Faculdade do Recife, comendador da Imperial Ordem da Rosa e Presidente da Província de Minas Gerais fez público que a Assembléia Legislativa Providencial decretou a elevação à categoria de paróquia o distrito de Sant’nna da Vargem, município de Três Pontas).
Visto muitas pessoas vinrem morar na nova paróquia transcreveremos abaixo este decreto que mudou por completo a vida do povoado.
* (Art. 1º – Ficam elevado à categoria de paróquia os distritos seguintes: o do Retiro, capela filial da freguesia de Sant’Anna do Sapucaí, município do Pouso Alegre, com os mesmos limites: o de Sant’Anna da Vargem; o da Tapera, município da Piranga, com a denominação de freguesia de Nossa Senhora do Porto Seguro; o de Santo Antônio da Canna Brava, município de Paracatu, que se comporá de distrito do mesmo nome e do de Caratinga; o de Burity, município de Sete Lagoas, desmembrado da freguesia se Santa Quiteria, com as mesmas divisas do districto.
* Art. 2º – Revogam-se as disposições em contrária.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que se cumpram e façam cumprir, tão inteiramente como nela contém. O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, aos cinco dias do mês de outubro do ano de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta e sere, qüinquagésimo sexto da independência do Império. (L.S.)João Capistrano Bandeira de Mello Para V. Exc ver.

Luiz José de Oliveira a fez, selada e publicada nesta secretaria aos 15 de novembro de 1877 Octavio Affonso de Mello)

Por muitos e muitos anos moravam por estas terras muitos devotos da Senhora Sant’Anna e desejaram doar e construir uma igrejinha em honra à mãe de Maria Santíssima Naquele tempo terras não tinham valor e não eram cultivadas. Não foi difícil encontrar pessoas que quisessem fazer doações. Muitos deram alqueires de terra, ma poucos são lembrados. Pedro Pinto, avô de Pedro Egídio da Silva, é o mais lembrado. Ele era fazendeiro do Cajuru e foi um benfeitor do povoado. José Celestino Terra, fazendeiro em Carmo da Cachoeira, mudou-se para este povoado e comprou terras para doar, à pedido de Pedro Pinto. Eram grandes amigos e parentes. José Celestino veio morar na 1ª casa construída na antiga praça S. Sebastião. Outro benfeitor: Dr. Fernando Leal, fazendeiro, dono das terras de São Lourenço, hoje fazenda da família do Dr. Francisco Gilberto Reis Araújo. Dr. Fernando doou terras e fez a igrejinha, apenas exigindo que a mesma tivesse a entrada voltada para a frente da fazenda. Assim poderia ver a saída dos fiéis terminadas as solenidades religiosas. Dr. Fernando era pai de Licas Fernando que permaneceu por aqui muitos anos e foi amigo de verdade do povo de Sant’Anna da Vargem. João Vilela Figueiredo contribuiu nas doações e dirigiu os trabalhos da construção da igreja.
Os antigos moradores das terras de Sant’Anna da Vargem lembram-se de João Evangelista de Mendonça, conhecido por João Furtado e seu irmão Luiz que também doaram terras à Senhora Sant’Anna. Assim, outros que foram esquecidos. Os operários que construíram a igreja vieram da Fazenda do Tenente José Fernando Azevedo, a pedido de Antônio Celestino Terra, ambos ricos fazendeiros em Carmo da Cachoeira.
Muitos fatos importantes aconteceram nas terras de Sant’Anna com a construção da Igreja.
Quando a igreja ficou pronta, houveram novas doações: uma imagem linda da padroeira em madeira, muito bonita; outras imagens de valor artístico e jarras de porcelana muito cobiçadas; dois sinos que foram colocados no alto de dois postes junto à Igreja Matriz: soavam e tocavam alto chamando o povo da redondeza para as solenidades religiosas.A Igrejinha toda branca da Senhora Sant’Anna ficava repleta de fiéis. Muitos moradores da vizinhança vieram fazer casas em Sant’Anna da Vargem. A primeira que já foi citada tinha frente para a Igreja e havia um trilho de lá até a Igreja; o resto era uma verdadeira mata, mas só de jabuticabeiras.
Raramente vinha padre celebrar missa. O povoado, pequeno ainda, não possuía casa paroquial. Então uma senhora, Dona Genoveva Cândida, doou uma casa para esta finalidade.
A casa do Chalé tornou-se a sala de visitas de Sant’Anna da Vargem. Nesta eram realizadas grandes festas, com cardápios cariados e saborosos. E foi em uma destas festas que Padre Victor, de Três Pontas, aquecendo-se junto às brasas em uma noite fria, exclamou: “Isto aqui é um pedaço da Sibéria”. Sant’Anna da Vargem muito deve a esse piedoso vigário que muitas vezes a honrou com a sua presença, vindo rezar missa, fazer batizados e casamentos. Gostava muito da casa do Pedro Pinto, onde ia descansar após a missa.
Em 1903 tudo estava mudado, tudo em abandono, até a igrejinha toda branquinha de Senhora Sant’Anna. Neste ano o Sr. Bispo de Pouso Alegre anexou a paróquia de Sant’Anna da Vargem à Espírito Santo dos Coqueiros, Coqueiral, nomeando para vigário dirigente Padre José Maria Rabello.
Ainda em 1903 visitou a paróquia o Sr. Bispo Diocesano Dr. João Batita Corrêa Nery e celebrou missa no altar improvisado na sala de visitas da casa do Juiz da Paz, Sr. Elias Furtado de Mendonça.

Certa vez a prefeitura Municipal de Três Pontas olhou um pouco pelas terras de Sant’Anna da Vargem. Foi organizado um conselho distrital composto de seis membros, com a finalidade de melhorar a qualidade de ida dos habitantes.O governo deliberou que a renda arrecadada pelos impostos fosse gasta dentro do distrito. Assim a vila foi dotada de água potável por meio de um carneiro hidráulico, que mais tarde foi substituído por energia elétrica. Em 03 de julho de 1914, era vigário da paróquia o padre Manoel Afonso Pereira Campos, que não quis morar na casa paroquial. Padre Manoel comprou outra casa que possuía pasto e brejo, na Rua das Flores, por trezentos mil réis, vendendo a antiga por seiscentos mil réis, sendo a diferença aplicada na melhoria da nova casa que foi adquirida do Sr. Miguel Antonio da Silva e sua esposa, Genoveva Mendonça. Duas mulheres entraram para a história da cidade que nascia: Dona Genoveva Cândida e D. Genoveva Mendonça.
Sant’Anna da Vargem foi crescendo e desenvolvendo lentamente. Ótimas terras para cultura, facilidade para criação de bovinos, eqüinos e suínos… esses animais eram criados soltos e passeavam tranqüilamente pela Vila.
Na baixada, a terra servia para cerâmica. Assim, Antônio Feliciano, artista em cerâmica, fez grandes e belos trabalhos. Seu nome ficou esquecido com o correr dos tempos. Existiam muitos vasos desse artista em Sant’Anna da Vargem, inclusive na antiga Casa Paroquial.
Assim foi Sant’Anna da Vargem até 1921, ano em que Dona Maria Adelindes de Brito, esposa do chefe político de Três Pontas, José Azarias de Brito (Zaroca) em viagem ao Rio de Janeiro, ficou conhecendo Padre João Maciel Neiva que viera de Portugal e não tinha paróquia. Quis traze-lo para Sant’Anna da Vargem, tendo o seu pedido aceito pelo Bispo Diocesano da Campanha.
Em 02 de fevereiro de 1922, tomo posso de vigário de Sant’Anna da Vargem o referido sacerdote, que também mudou a vida dos seus habitantes. Em 1º de maio iniciou os festejos do Mês de Maria e em 26 de julho, a festa da Padroeira. Abriu ainda uma escola da qual foi professor. Em 1924 construiu o cemitério (que custou 10:390$000) e que hoje está desativado. Neste mesmo ano foi nomeado Inspetor Escolar do Distrito. Sant’Anna da Vargem gozava de 1 único meio de comunicação: o correio. O serviço de remessa das malas postais era feito por duas estafetas que faziam o percurso a cavalo d Três Pontas a Sant’Anna da Vargem e desta a Boa Esperança. Com a revolução de 1930 a 1932 tudo se tornou difícil. O povo empobreceu, o salário dos funcionários sofreu cortes, houve muita tristeza. A prefeitura de Três Pontas se esqueceu de Sant’Anna da Vargem.
Padre João Maciel Neiva não se esqueceu de fazer festas e colaborar nas comemorações de datas nacionais, dentro das Escolas Reunidas. Organizava excursões a Frei Eustáquio, Coqueiral e Três Pontas. Gostava de teatrinhos e auditórios.Um grande feito do nosso pároco foi a construção de casas. Trouxe de Coqueiral oleiros e suas famílias que se dispuseram ao trabalho. Construiu casas contornando a praça, sua residência, uma casa (o bar) que serviu de ponto de ônibus, a casa de Dona Augusta, a de Dona Filomena, de José de Abreu e de João Bráulio. Resolveu ainda melhorar as condições da igreja. Em 1941 a matriz já se achava quase reformada : possuía uma linda torre e estava apta a atender as solenidades religiosas.
No início de 1943 foi benta a Igreja Matriz, a torre, os sinos e o pretório. Assim Sant’Anna da Vargem estava pronta para os festejos da Semana Santa.
Em 1953, padre João Maciel Neiva voltou à sua terra natal e muitos outros padres prestaram serviços religiosos na paróquia, até que, em junho de 1956, veio para Sant’Anna da Vargem o nosso pároco, Padre José Ribeiro da Silva, sendo transferido um ano depois e voltando definitivamente em 24 de julho de 1958.

Elevação do Município de Sant’Anna da Vargem

Já no ano de 1958, os vargenses pensavam na autonomia municipal. Sant’Anna da Vargem possuía condições de desligar-se de Três Pontas.
Diversos foram os nomes atribuídos: Vargem Grande; Itaquicê; Mombuca; mas só ficaram nos decretos e leis. Ninguém tomou conhecimento e a partir de sua emancipação política criada pela Lei 2.764 – de 20 de dezembro de 1962, desmembrado do município de Três Pontas, ficou decidido o nome de SANTANA DA VARGEM.

BANDEIRA E BRASÃO
Lei 250 de 14 de novembro de 1985. Das cores oficiais da bandeira e do município:
Azul – prosperidade, harmonia e contemplação
Branco – paz, pureza e sinceridade
Vermelho – coragem, arrojo e intrepidez.

DO BRASÃO DAS ARMAS
O Brasão de Armas de Santana da Vargem, Estado de Minas Gerais, terá as seguintes características heráldicas:
1- O estilo do Brasão em descrição dos Brasões ingleses, introduzido em Portugal, herdado pela heráldica do Brasil, como evocativo da raça latina colonizadora e principal formadora de nossa nacionalidade.
2- O conjunto heráldico será encimado por coroa esquartelada de argente (prata) que é Símbolo Universal de Brasões de domínio.
3- Abaixo da Coroa Mural, o escudo, que será dividido horizontalmente em três partes iguais de altura, sendo a do centro dividida verticalmente em outras duas de igual tamanho. Na parte superior do escudo, um fundo branco, retratando a Indústria Cerâmica do Município, em conjunto marrom, formado por um forno, um tijolo com furos, uma telha do tipo inglesa e outras do tipo colonial. Ainda no mesmo quadro, ladeando o citado conjunto representando as atividades agrárias, um ramo de milho à sinistra e um ramo de cana à destra.
4- Na parte média do escudo, em divisão simétrica, encontra-se à sinistra uma rês bovina, pastando, que simboliza a pecuária do município e à sua destra vê-se a Igreja Matriz que representa o pendor cristão e a fé que anima seu povo.
5- Na parte inferior do escudo, desenha-se uma paisagem onde se vê em primeiro plano o Ribeirão Santana que banha o município e ao fundo três montes que lembram a origem do município de Três Pontas.
6- Ladeando o escudo, situam-se de casa lado dois ramos de café, sendo um a destra e outro à sinistra.
7- Finalmente, à base do escudo temos um argenta (prata) e com letras em jalve (ouro), um listral em cujo centro estampam-se o topônimo Santana da Vargem, ladeado pela legenda: 30.12.62 à sinistra e 01.03.63, à destra, datas respectivamente da criação e da autonomia do município.
Art. 2º – O brasão será adotado como selo em Todos os papéis do município.
Art. 3º – Revogados as disposições em contrário, entrará a presente Lei em vigor na data de sua publicação.